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quinta-feira, 24 de maio de 2007

O Espaço da Cura

Já há dois meses que "cuido" da minha avó, após a última queda não mais consegue ir à rua sozinha e o medo de cair de novo é suficiente para que eu tenha ido recambiada para me tornar na sua dama de companhia. Desde então arrumo a casa, faço-lhe quase tudo, passeio-a e todos os dias a ida ao Sr. António da mercearia é um ritual que não pode deixar de ser concretizado!
Neste tempo ela vai relembrando tempos já muito lá atrás, e conta-me como andava descalça enquanto miúda, como era ela que tomava conta dos irmãos por ser a mais velha, como passou pelo período do racionamento aquando uma guerra que não se lembra o nome e a mais recente, uma ida a Paço d'Arcos com o marido a um médico naturista que através duma dieta especial conseguiu pôr o avô que nunca conheci a ver durante uns dias. Contou-me que por achar que já estava curado regressaram a Santarém, mas a cegueira, derivada dos diabetes regressou.
Também para mim Paço d'Arcos serviu de cura, cura para a imensa tristeza que me rodeava há já tanto tempo, reduzida a um nada sem utilidade alguma, e de lá veio uma proposta de trabalho. Aceitei, claro, vamos ver se também a mim, este local que olha o Tejo, traz luz e dissipa as núvens que tendem a rodear-me...Quem sabe até se não foi o avô que nunca conheci que intercedeu e colocou no local onde ele se momentaneamente se curou o remédio para a sua descendência...

sábado, 19 de maio de 2007

A Ciência do Vinho

Engraçado as coisas que podem adquirir uma ciência de estudo! O vinho, é realmente fascinante e algo horripilante a sua ciência. Não sou de forma alguma uma entendida no assunto mas já trabalhei de perto com pessoas que o são e vão-se aprendendo umas coisinhas... Desta feita uma raque é o suporte em plástico, tipo grade, onde se transportam os copos, existem vários tipos de copos, cada um para o seu vinho correspondente, as cuspideiras são um fenómeno digno de meter nojo, mas a coisa dá-se!
Estive três dias a colaborar num festival Nacional de Vinhos e não tinha a mínima noção de que houvesse tantas mulheres "aficcionadas" desta arte. Não é mesmo para qualquer um, os que por lá passaram eram na sua maioria empresários e conhecedores profundos.
O vinho desliza no copo que é embalado em pequenos círculos para melhor se perceber o seu aroma. O copo é movimentado, qual objecto pela primeira vez visto, para que se averigue a textura, a cor. O líquido de Baco é ainda degustado, bochechado, bate nos dentes, língua, lábios e desejando descer é literalmente cuspido fora. Ainda falta uma parte importante, deixar a língua apurar o vestígio do vinho na boca e no fim, atribuir-lhe pontuação.
É um silêncio completo o que reina na sala com quase cem pessoas, trata-se da fusão do homem com um produto que liberta a mente e revitaliza o espírito, qual anúncio a uma bebida energética... Mas é mesmo ciência, há um lado certo para se deitar o vinho, um copo específico (Siza Vieira é para os licores e Portos) um tempo certo para se avinhar e adivinhar o prazer que ele dá!
Pena ter estado só nos bastidores! Mas ainda ganhei uma garrafa e o Moscatel, esse ninguém me impediu de beber...

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Para Inglês Ver:

Atribuindo parte das culpas ao sensacionismo jornalístico decorre mais um caso de apanhar "gambuzinos", desta vez em Lagos, Portugal.
Sim senhora, uma criança de quase 4 anos desapareceu mas nem o país pode parar por causa disso nem a população deve perder tempo da sua vida a discutir inúmeras possibilidades sobre o que se terá passado. A criança britânica de férias com os pais e mais dois irmãos evaporou-se, suspeita-se de rapto. Meus senhores e minhas senhoras (é o que o Primeiro Ministro costuma dizer nos debates da AR) a criança não era portuguesa, os pais abandonaram-na bem como aos outros irmãos para irem jantar fora, a polícia nacional destacou centenas de homens e outros recursos numa autêntica busca de caça a um homem que não se sabe quem é. Ora analisando os factos sem qualquer proximidade a Madeleine - a existência de um nome leva a que nos sintamos próximos da pequena como se a conhecessemos - ela já desapareceu há 6 dias, não houve qualquer resgate ou contacto por parte do alegado raptor, concerteza a pequena já está morta, já está fora do país (em Portugal não se fecham as fronteiras), já foi vendida a um qualquer turco (comentário sem qualquer espécie de racismo), já foi aberta e dissecada para tráfico de órgãos no mercado negro, qualquer coisa, mas o que é facto é que não vai voltar a aparecer.
Os pais coitados sofreram uma grande perda, insubstituível ou talvez não, mas o mundo não pára por causa disso, rezem à vontade, mas não deviam ter abandonado os filhos para ir jantar ainda que por pouco tempo. Ser pai ou mãe é uma profissão a tempo inteiro (fala alguém sem filhos), agora concentrem-se nos outros que ainda têm.
De repente esta notícia virou manchete nacional, a polícia, em particular a PJ está destacada em peso para esta busca, e os inúmeros casos que temos pendentes para investigar? Já nem digo, como tem sido anunciado, que as forças de segurança dedicam mais tempo a este caso que a alguns passados, mas o que é facto é que nunca se observou tal mobilização de gente e de recursos humanos para qualquer cidadão português, se fosse cidadão europeu até achava bem, mas a Inglaterra nem sequer aderiu ao euro. É preciso ver bem as coisas!
Mas fora de sarcasmos, foi uma fatalidade ou tragédia, não, foi um acto de má fé feito por um alguém que não se conhece identidade ou motivo mas aconteceu, não vai é o país parar por causa disto, os jornais dedicam quase a totalidade do tempo de antena a este caso e esquecem o que se passa de resto.
Falo por mim mas não gosto de ser manipulada e levada a sentir pena de alguém que nunca vi ou conheci.
Haja coerência! Isto serve para quê, para vermos que a justiça ainda se faz em Portugal?

domingo, 6 de maio de 2007

Compreendo, Compreendo Perfeitamente

Digam o que disserem, ainda que faça mal, compreendo perfeitamente!
Compreendo os alcoólicos, compreendo os agarrados, compreendo os sonhadores, compreendo toda e qualquer forma de aditivos que possam distorcer a realidade.
Há uns anos enquanto ainda frequentava o curso tive uma cadeira que me "obrigou" a ler O Mal Estar da Civilização de Sigmund Freud. Ainda que as teorias dele já estejam ultrapassadas, adoptei uma atitude de total compreensão daqueles que usam aditivos para reprimir o tal desconforto que a sociedade gera. "A vida, tal como a encontramos, é árdua demais para nós; proporciona-nos muitos sofrimentos, decepções e tarefas impossíveis. A fim de suportá-la, não podemos dispensar as medidas paliativas... Existem talvez três medidas deste tipo: derivativos poderosos, que nos fazem extrair a luz de nossa desgraça; satisfacções substitutivas, que a diminuem; e substâncias tóxicas que nos tornam insensíveis a ela."
Assim o ser humano, que é regido pelo princípio do prazer na sua forma mais primitiva encontra-se frequentemente em luta com o que deseja fazer e o que pode fazer. É que a seguir ao princípio do prazer vem o princípio da realidade e é este princípio a origem de todas as nossas angústias. Ora se a sociedade não é passível de nos tornar plenamente felizes; e aqui aproveito para referir que o princípio do prazer é aquele que satisfaz todas as nossas necessidades enquanto espécie ainda em evolução, e por isso deve olhar-se para o ser humano como a criatura mais complexa da cadeia evolutiva - porque se torna tão complicado para ela aprender a coabitar com aqueles que o reprimem através dos tais aditivos (o sonho engloba-se aqui)?
Mais difícil de compreender é a importância que damos ao contacto com ela - o princípio da realidade que nos revela que o prazer muitas vezes não pode ser logo sentido e noutros casos até se torna impossível de o sentir.
O Homem é então o mediador entre o seu prazer e a realidade da civilização, ora isto só pode levar qualquer um a sentir-se frustrado se da parte da sociedade não receber qualquer reforço positivo que, embora não satisfaça o seu prazer primitivo, acalma-o porque lhe satisfaz um secundário, o de estar inserido nela. É por isto que afirmo que compreendo os loucos, os sonhadores, os dependentes e os outros à margem!
Que sonhadora sou!